Era tarde.
Uma daquelas tardes ensolaradas, que tudo fica meio laranja.
Laranja, alaranjado.
Nunca soube o certo.
Era assim.
O suor escorrendo fresco pelas costas.
E no rosto havia aquele sorriso de criança, menina, mulher sapeca.
Uma mulher que estava ali, esperando o momento certo pra nascer.
Quando tudo se fez silêncio e marasmo, ela decidiu pegar as malas e ir pra dentro.
Foi pra dentro de casa.
E passou os dedos lentamente pelas xícaras.
Aquelas xícaras que tinham sido da vó, bisavó, tetravó, e mais um monte de gente que nunca conheceu.
Sentiu a porcelana fria entre os dedos.
E então passou direto pelo corredor.
O corredor, cheio de fotografias da infância e outras coisas.
No chão, aquele tapete velho.
Quando lavaram pela última vez?
"Céus, preciso lavá-lo" - pensou.
Foi até o chuveiro.
Se despiu.
Lentamente, como se cada pedaço de pele fosse sendo descoberto milimetricamente.
Passou a mão pelos cabelos.
Observou o rosto no espelho.
"É, ainda está tudo aqui."
Ligou o chuveiro e observou a água saindo quente.
Saía quente, como a vida que brotava de dentro dela.
E as gotículas que ficavam em suspensão e dançavam.
Dançavam feito bailarinas.
E admirada, observava tal espetáculo.
Fechou os olhos e sentiu a água escorrendo.
Aah, não preciso de mais nada.
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3 comentários:
arrumei o quarto.
sabe aquele sorriso bobo de quem sonha? então :}
Ou aquele sorriso bobo de um dia de friozinho e de casacos confortáveis... Que me deixam pensativo e reflexivo!
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