terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Curitiba, 20 de Janeiro de 2009.

Sim, já escrevi outras cartas antes.

Cartas de amizade, cartas para a vó, cartas para primos que mal converso (por pura pressão da família). Mas nenhuma feito essa. Nenhuma assim, sem motivo aparente e sem ter que calçar os sapatos de chuva para levá-la no correio. Essa não precisará de selo.

Naquelas tantas revistas bobas (hoje são bobas) que lia lá pelos meus onze ou doze anos, uma vez li uma coisa que não consigo esquecer. Dizia que é preciso tomar cuidado com tudo aquilo que deseja, pois os desejos podem se realizar. Não exatamente da maneira como você imaginou que eles viriam. E talvez isso não vá ser lá tão agradável. Num momento de lucidez, ou insanidade, tentei não desejar mais nada grandioso demais. Nada que fosse surrealisticamente impossível ou não pudesse ser conquistado através do esforço do meu próprio sangue.

Estava indo bem. Estava indo muito bem. Mas então me deparei com portas fechadas, abismos intermináveis, distâncias impossíveis. E coloquei me para pensar mais uma vez se valeria a pena ou não desejar. Vale mais a pena sonhar.

Mas os sonhos também ferem. E a cordinha que está com uma ponta amarrada no tornozelo, e a outra no pé da cama, apesar da aparência, está velha.

'...minha alegria também vem de minha mais profunda tristeza (...) tristeza era uma alegria falhada. Sim, ela era alegrezinha dentro de sua neurose.'

Por que é então que parece faltar palavras para mostrar? Pobreza minha. Só sei que me sinto como um copo cheio até a borda. Se beber tudo, não parecerá demais? Se viesse com um pouco a menos, faltaria. Os movimentos externos podem fazê-lo transbordar e derramar boa parte do conteúdo. Não dá pra beber em uma posição confortável, sequer elegante.

E desde as primeiras cartas, nunca soube terminar uma carta. Como é que se introduz o final?

Sempre detestei finais.

4 comentários:

mayara c. disse...

termina com desejos.

Espero que...

Anônimo disse...

te amo. :*

isabela. disse...

solidão é um luxo, não é mesmo?

.carolina. disse...

"Só sei que me sinto como um copo cheio até a borda. Se beber tudo, não parecerá demais? Se viesse com um pouco a menos, faltaria. Os movimentos externos podem fazê-lo transbordar e derramar boa parte do conteúdo. Não dá pra beber em uma posição confortável, sequer elegante."

isso tem tantos significados pra mim!