quinta-feira, 15 de maio de 2008

Pra te acompanhar...

É.
Rapaz, tá sendo complicado.
Sei que parece que é um daqueles momentos em que a vida te prova.
Pra saber se você vai aguentar todos os trancos e barrancos da vida.
É isso que parece, viu.
Mal superei uma coisa, e surge outra.
Isso dói.

Sempre dizem que os bons momentos é que devem ser lembrados e relembrados.
Sim, sei disso.
E é isso que tento fazer, cada dia mais.
Mas essas coisas ruins (que por acaso fazem a gente crescer) doem demais.
Elas magoam fundo.
E nossa, como doem.

Já devo ter contado essa história...
Mas uma vez, quando eu era bem pequena (minha vó diz que eu era bebê), meu pai tinha viajado.
Estávamos em casa: eu, minha mãe e meu irmão.
E uma noite, acordei chorando.
Chorando muito.
Minha mãe tentou de tudo, mas eu não parava de chorar.
Ela me disse que ficou desesperada.
Não sabia o que fazer.
E ligou para a minha vó, pois elas moravam na mesma rua.
E vieram : minha vó e meu vô.
Diz minha vó, que foi só eles abrirem a porta, e meu vô me pegar no colo, que eu parei de chorar.
Assim mesmo, do nada.
Sem mais nem menos.
Não era fome, não era nada.
Era isso: colo.
Sempre minha vó me conta essa história.
E eu sempre peço pra ela me contar.
É bem o tipo de coisa que me faz muito bem.
Me faz ver como eu gosto do meu vô.
Isso e muitas outras coisas.
Me lembro de quando ele me levava pra pescar.
Sabe, era uma coisa assim...simples.
Pode até parecer meio boba.
Mas ele sempre gostou de pescar.
E eu nunca tinha pescado.
Aí ele me levou.
É até meio bobo, jogar o anzol na água, e tirar o peixe.
Mas era muito muito divertido.
Não era o pescar.
Era a companhia.
Esses momentos com o meu vô faziam com que eu me sentisse muito amada.
Porque minha família nunca foi das mais afetuosas.
E talvez por isso, eu seja tão carente.
Mas era daquele jeito que ele demonstrava amor.
E era daquele jeito (e não consigo imaginar outro jeito) que a gente amava e se sentia amado.
São tantas histórias.
E todas elas me vêm a cabeça agora.
No hospital, alguns anos atrás.
Poucos dias antes de ele ser operado...
Veio uma fisioterapeuta no quarto.
Para ensinar uns tipos de respiração que ele deveria fazer após a cirurgia.
Eram uns exercícios muito engraçados.
E eu ficava fazendo junto com ele.
E a gente ficava rindo muito.
A gente ria tanto, e debaixo do nariz da fisioterapeuta.
Acho que ela chegou até a ficar com raiva.
Mas foi muito engraçado.
Acho que foi uma das últimas vezes que eu vi ele rindo.
E guardo essa lembrança breve, simples...com muito carinho.

Lá pelas últimas vezes que te vi, no Ano Novo...
Você estava tão mudado.
Sério, distante.
Tinha até deixado um bigode, que eu achei muito estranho e fiquei tentando te fazer rir.
Ficava tentando muito mesmo.
Mas parece que essa coisa chamada "alegria" tinha ido embora dali de você.
E isso, me deixou super mal.
Te ver mal, me deixou muito mal mesmo.
Família é uma coisa que a gente sempre quer bem.
E te ver mal, foi péssimo.
Eu entendia.
Eu te entendia.
Mas doía te ver daquele jeito, e não poder fazer nada.
O nosso contato passou a ser assim.
Silencioso.
Ficávamos sentados ali, no mesmo recinto.
Vez ou outra, saía uma palavra.
Uma novidade boba que eu tinha pra contar.
Você assentia com a cabeça.
E me dizia pra nunca desistir.
Pra me esforçar.
Pra ser alguém na vida.
Mas era sempre assim:
Eu via aquele seu olhar distante...de quem já viu muita coisa na vida.
Aquele seu olhar que me deixava super perdida e sem chão.
E eu faria qualquer coisa para poder achar o teu sorriso e te devolver.
Mas não havia nada para ser feito.

Sei que sinto saudades.
Ainda não me caiu a ficha direito.
Pra mim, você está vivo.
Está bem.
No máximo, viajou, e está para voltar.
Pra mim é isso.
Ainda não aceitei o fato de que vi o teu rosto, e nunca mais vou ver de novo.
Tá doendo muito em mim.
Mas de certa forma, sinto que você está bem.
E desejo sempre, o melhor para você.
Você merece.
É é só isso que posso dizer:
Sinto saudades.

Obrigada por tudo.
E eu prometo sempre sempre, dar o meu máximo.
Não só por mim, ou só por você.
Por nós.

2 comentários:

Rafael Kumoto disse...

Nem sei o que dizer...
Posso apenas assentir com a cabeça.

Lucas. disse...

Tá mto bom Isa.
Ele realmente ficaria muito feliz ao ler esse aqui.
É sim.