sábado, 5 de julho de 2008

Vai lá, vou tentar de novo.

Sempre tive uma dificuldade imensa em me expressar.
Não consigo desenhar o que sinto.
Não consigo falar, muito menos escrever.
Consigo fazer umas comparações que em nada tem a ver com o que eu realmente queria falar.
E nisso, quem vê entende errado.
E coloca palavras na minha boca, falando que fui eu que falei.
E eu não falei.
Eu não consigo falar.

Achava que depois de me despetalar quase que por completo, e começar a catar todos os caquinhos que ficaram jogados por ai, as coisas melhorariam.
E até parecia que tinham melhorado.
Mas não melhoraram.
Reparei que me reconstrui de um jeito que não gostei.
E não gosto de como estou.
Sinto que estou me enganando muito.
Estou agindo mais, levando em consideração os outros.
Uma vez me falaram que a gente tem que viver esse tal de "luto" quando acontecem coisas ruins.
E vivendo esse tal de luto, a gente respeita a própria dor.
E respeitando a própria dor, a gente vai aos poucos se curando, ou aprendendo a conviver com a dor.
E pensei que havia superado essa parte.
Jurei que tinha conseguido.
Mas consigo enxergar que estou me enganando demais.
Fico pensando no quão incômodo isso pode ser para as pessoas, e me forço a melhorar.
E não estou melhorando.
Sinto que estou a cada vez mais afundando para esse buraco que eu tanto temia.

Aí fico sentada no meio de muitas pessoas, e o meu sorriso já se tornou uma coisa tão minha, que não conseguem associar Isabela a qualquer outra coisa.
Mas é totalmente o oposto.
O melhor sorriso que eu poderei dar, é aquele que ninguém vai enxergar.
E muitas vezes a minha alegria está disfarçada de solidão.
E essa solidão me mata, mas é muito essencial.
E eu fico aqui com esse monte de lembranças que ficam saltando na minha frente.
E me fazem sempre parar, pensar e ficar perdida querendo voltar.
Queria voltar, queria muito voltar.
Queria voltar para aqueles paraísos que as pessoas pintavam pra mim, e eu pintava pra elas.
Era tão bom.
E agora, nem sequer um retrato sobrou.

Se você estivesse aqui, talvez eu lembrasse de escovar os cabelos.
Comer direito, tomar banho.
Lembraria de dormir bem, me fazer bonita por dentro e por fora.
Se você estivesse aqui, talvez eu lembrasse de que a vida é bonita, e qualquer dor a gente supera.
Eu lembraria de tudo isso.
Mas você não está.
E eu nem lembro mais como é que se faz tudo isso.
E queria muito lembrar.

Como é que eu faço com esse teu sorriso e o som da tua voz que se tornou tão familiar pra mim?
Como é que eu faço com todos aqueles domingos que a gente nunca teve, e a conversa que eu sempre quis ter mas não tivemos tempo?
Como é que se faz?
Como?

Queria por um segundo poder esquecer tudo.
Só um segundo.
Um piscar de olhos.
Para poder respirar bem fundo, e daí continuar.
Como eu faço, se até nos meus sonhos você me persegue?
E quando menos eu espero, lá está você para me lembrar de tudo aquilo que a gente nunca chegou a fazer.
E o que eu faço agora com aquilo que você deixou aqui?
Se as suas coisas estão espalhadas por todos os lugares?
E aquelas coisas que você deixou no meio dos meus livros?
E aquela camisa amassada ali no canto do quarto?
Se até a sua escova de dentes está aqui, e o seu braço ainda está no meu ombro.
Se o seu cheiro ainda não saiu do meu nariz, como eu faço para ele ir embora?
Como eu faço?

A música que não havia colocado.

2 comentários:

Ronald disse...

Tem muito neste texto que não me é possível perceber inteiro ou tudo de cada parte.

Li em certo lugar que o esquecer pode ser o ato de liberar espaço para novas vivências. Foi algo parecido, faz tempo que li. as vezes a necessidade nos faz ajustar-mo-nos a elas. Quem sabe -eu não sei - setentar alguma vivência nova possa te ajudar a esquecer de outra ventura desgostosa.

Vaninha® disse...

Gostei do comentário do Ronald.
Boa semana.